domingo, 22 de maio de 2011

Antiguinho, mas é sempre bom lembrar: depois do fogo, seremos melhores!!!


A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação pela qual devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho de pipoca não é aquilo o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer. Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo, continua a ser milho de pipoca. Para sempre.
Assim acontece com a gente: as grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira…
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é o seu jeito de ser, mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo.
Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso diminui a possibilidade da grande transformação. Pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro, ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada…
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: Bum!
E ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente do que ela mesma nunca havia sonhado.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisas mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura.
O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
(Rubem Alves)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Aboliu-se o mérito e agora aprova-se a frase errada para não constranger.

Na semana passada, foi distribuído para quase meio milhão de alunos um livro de português que defende um novo conceito sobre o uso da língua portuguesa. Não teria mais certo ou errado, e sim adequado ou inadequado, dependendo da situação. O Ministério da Educação esclareceu que a norma culta da língua portuguesa será sempre a exigida nas provas e avaliações.
Quando eu estava no primeiro ano do grupo escolar e falávamos errado, a professora nos corrigia, porque estava nos preparando para vencer na vida. É notório que o conhecimento liberta, forma eleitores e contribuintes conscientes, gente que cresce e faz o país crescer.
É notório que o conhecimento vem pela educação na escola, em casa e na vida. E é óbvio que a raiz de tudo está na capacidade de se comunicar, na linguagem escrita que transmite e difunde o conhecimento e o pensamento. Isso é o que diferencia o homem dos outros animais.
A educação liberta e torna a vida melhor, nos livra da ignorância, que é a condenação à vida difícil. Quem for nivelado por baixo terá a vida nivelada por baixo.
Pois, ironicamente, esse livro se chama “Por uma vida melhor”. Se fosse apenas uma questão linguística, tudo bem, mas faz parte do currículo de quase meio milhão de alunos. E é abonado pelo Ministério da Educação. Na moda do politicamente correto, defende-se o endosso a falar errado para evitar o preconceito linguístico.
Ainda hoje, todos viram o chefão do FMI algemado. Aqui no Brasil, ele não seria algemado porque não ofereceria risco. No Brasil, algemas constrangem os detidos. Aqui, os alunos analfabetos passam automaticamente de ano para não serem constrangidos. Aboliu-se o mérito e agora aprova-se a frase errada para não constranger.
A Coreia saiu arrasada da guerra através de duas ou três décadas de educação rígida. A China, que há poucos anos estava atrás do Brasil, sabe onde está indo a razão de 10% ao ano do PIB: com educação rígida, tradicional, competitiva e premiando o mérito. Aqui, estamos apontando para o sentido contrário.

Alexandre Garcia - Bom Dia Brasil - 17/05/2011