terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ela era flor e fogo e o olhar dizia muito...


Tudo ia para o lugar... Quando ela passava as pedras soltas faziam canteiros e a noite caía para ela brilhar. Seu lugar era incerto, seu amor forte e a arte infinita. Pintava tudo de lilás e pisava em folhas secas e as bolhas de sabão enfeitavam o ar. Porque a arte é a expressão plástica do espírito, e o seu, era claro e transparino como as águas curiosas de uma nascente que corre em cascata pela grama ainda virgem.
Tudo se acalmava quando ela passava... As folhas revoltas, e o vento em fúria, faziam chover em sua alma gotas ácidas que destruiam sua natureza sutil. Ela chorava, mas ela era forte. Ela enfrentava toda matéria, todo o invisível e o imaginário. Foi então que o vento sussurrou... Ele a viu passar. Quando o vento se acalmou ela saiu e o enfrentou... E toda a natureza silenciou-se.
Tudo vibrava a seu favor... Ela não percebia, mas as pontes desciam para ela seguir... Caminhos eram inventados e as asas cresciam em suas costas. Ela atravessava o preto, a ponte em neblina e a estrada infinita. Mas sabia que chegaria em algum lugar... Uma borboleta azul lhe disse: "Nada há de te fazer parar quando segues o caminho que faz teu coração vibrar." E ela nunca parou.
Os prazeres eram aumentados, e o choro, e o riso e toda sua sensibilidade. Ela era flor e fogo e o olhar dizia muito. Ela fazia do pouco um lugar confortável e de um gole, uma vida toda. "Quente tão húmido quanto a paixão... Fresco como um mergulho invernal do lago... Dois prazeres sorvidos em um chá..." E isso, bastava.
As coisas eram mais lindas quando ela estava perto... A chuva era mágica, a casa mais alegre, os cantos da casa riam quando ela pisava e as paredes mudavam de cor. Ela dizia que "0s maiores segredos escondíam-se sempre nos lugares mais inverosímeis." Ela era o segredo.
Quando ela se revelava, fazia com maestria e graça. Foi presa, podada e ainda assim, cresceu. Porque a luz cresce depois de comprimida... Revela-se, explode como uma estrela milenar e todo o céu a contempla. Um senhor me disse: "Ela livrou-se das amarras e só o que restou na cela foi o eco de um grito profundo no interior das pedras... O castelo desconstrui-se. Ela riu, parou e fez pose para a vida que a esperava..." Assim era ela.
As coisas renasciam por suas mãos... O seu olhar curava e as palavras preenchiam os espaços vazios.... Ela podia estar só, mas logo os pássaros se chegavam, e as abelhas, pirilampos, fadas e mariposas... Seres alados faziam círculo ao seu redor. Porque "na solidão de certos dias, eu me invento." dizia ela. Assim, ela se reinventava.
Ela pisava o mundo colorindo o caminho... acreditava na magia da vida e, nas sementes plantadas... Deixou seus dizeres espalhados pelo vento; quem presta atenção ainda a escuta. E quem não crê na magia, nunca a encontrará.

Carolina Salcides



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